Decisões tomadas nas cúpulas dos partidos, sem concordância das bases, mexem com os interesses dos militantes e eleitores.
Por: Patrícia de Raposo, da Folha de Pernambuco
O cenário é um dos mais confusos das últimas eleições. E talvez um dos mais autoritários. Decisões tomadas nas cúpulas dos partidos, sem concordância das bases, mexem com os interesses dos militantes e eleitores. O PT contraria o massivo interesse pela candidatura de Marília Arraes, em defesa da uma coligação com o PSB, algoz no impeachment de Dilma Rousseff. Faz isso de olho num cenário nacional insípido, porque, ao menos que algo de muito podre surja novamente no Brasil, Lula não pode tomar posse, se eleito for, de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
A manobra do PT foi uma troca com o PSB, que igualmente contrariou os interesses de sua militância em Minas Gerais e vai apoiar o candidato Fernando Pimentel, do PT, em detrimento de seu correligionário, o ex-prefeito Márcio Lacerda.
A jogada respingou no PDT de Ciro Gomes, que agora quer criar uma terceira via em Pernambuco. A articulação conta com o aval de várias siglas insatisfeitas com o PSB. O pedetista Túlio Gadelha, nova estrela do partido, que ganhou projeção recente devido ao seu namoro com a apresentadora Fátima Bernardes, é um dos cotados para ser governador pela sigla. Há ainda o ex-prefeito de Caruaru, Zé Queiroz, e outros nomes.
A confusão avança também sobre o MDB pernambucano. O vice-governador Raul Henry e o deputado federal Jarbas Vasconcelos disputam com o senador Fernando Bezerra Coelho o comando do diretório estadual. A tal ponto que ninguém sabe, às vésperas do prazo final para convenções, quem manda na legenda e para que palanque ela vai: se o do governador Paulo Câmara (PSB) ou o da oposição, cujo candidato é o senador Armando Monteiro Neto (PTB).
A desordem se reflete no cenário nacional, enfraquecendo as forças mais à esquerda, que se isolam sem apoio mútuo, enquanto o PSDB se alia ao Centrão (PP, DEM, PRB, PR e Solidariedade) para garantir apoio a Geraldo Alckmin. Em paralelo, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) segue firme na liderança num cenário sem Lula.
A disputa por tempo de campanha no rádio e na TV tem motivado boa parte dessas movimentações. Mas em plena era de redes sociais, é de se estranhar que os partidos ainda não saibam tirar proveito delas, se apegando muito ainda a meios convencionais.
Candidato às eleições norte-americanas em 2008, Barack Obama não limitou sua campanha aos veículos de comunicação tradicionais. Recorreu a um suporte não habitual: a Internet.
Obama recusou o financiamento público - foi subsidiado predominantemente por doações feitas online. E sua campanha foi inovadora em outros aspectos, desde a criação da marca e slogan à forma como se comunicou com diversos públicos através das redes sociais - espaços usados não só para falar, mas para ouvir os eleitores. Detalhe bastante ignorado por aqui. Diante disso, me pergunto: se partidos são incapazes de ouvir suas bases, podemos esperar que ouçam o povo?
Postar um comentário
Blog do Paixão